NOVO PRAZO DE ENVIO DOS TRABALHOS: 09 de abril de 2017
Literatura, loucura e biopolítica
Os dispositivos de controle e normatização das práticas e condutas estão disseminados como nunca na sociedade contemporânea. Sabemos, todavia, que a irrupção dessa vontade de normalização não é recente, ela vem de longa data e foi uma das preocupações centrais de Foucault quando realizou o diagnóstico do nascimento da biopolítica. O tema da loucura ocupou, nesse sentido, uma importância capital pois que a biopolítica guardaria uma relação estreita com as práticas psiquiátricas de diagnose e internação do considerado “louco, desviado ou anormal”. Com efeito, em sua primeira visita ao Brasil, no ano de 1973, Foucault asseverava: “O mundo é um grande hospício, onde os governantes são os psicólogos e o povo, os pacientes. E, a cada dia que passa o papel desempenhado pelos criminologistas, pelos psiquiatras e todos os que estudam o comportamento mental do homem torna-se cada vez maior. Razão pela qual o poder político está em vias de adquirir uma nova função: a função terapêutica”. Também, é o mesmo Foucault quem salienta o vínculo estreito entre literatura e loucura, desde a modernidade, ou seja, justamente desde o momento em que os dispositivos biopolíticos ganham forma. Declarava o pensador francês em uma entrevista dada no Japão três anos antes: “É justamente isso o que me atrai em Hölderlin, Sade, Mallarmé ou, ainda, Raymond Roussel, Artaud: o mundo da loucura que havia sido afastado a partir do século XVII, esse mundo festivo da loucura, de repente, fez irrupção na literatura”.
Desse modo, abrimos o convite a uma reflexão sobre o tema da loucura na literatura, seja como elemento constituinte dos textos, seja como elemento que acompanha o próprio processo da escritura; tal esforço buscaria compreender as relações dessa irrupção da loucura na literatura moderna, apontada por Foucault, com a problemática da biopolítica.
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